04/09/2006

O véio tá podendo (continuação e final da história)

Continuação do post anterior: O velho Severino volta a ativa.

Até os desafetos, que o acusam de impor um regime de ferro na miséria pernambucana, reconhecem de público e com deferência que Severino ainda mantém poder de fogo por essas bandas. Estimam que ele deverá contar 60 mil votos, um feito para quem saiu de Brasília mergulhado em escândalos e afamado como defensor do nepotismo e dos marajás. Os aliados, não são poucos, vão além - calculam em 90 mil o número de eleitores que o reconduzirão à Casa e ao convívio de mensaleiros e sanguessugas.

A campanha de seu Zito, como Severino é chamado aqui em João Alfredo, onde nasceu e construiu sua carreira, não é feita de grandes comícios. Dia desses reuniu 2 mil pessoas em uma caminhada pelas ruas de Bom Jardim e outras mil em Cumaru. Mas prefere mesmo é se acercar de lideranças locais para traçar planos e metas. Também se desloca por áreas rurais, onde fica à vontade.

Sua agenda de candidato consome quase 16 horas do seu dia. Não raro o céu de Boa Viagem, no Recife, onde mora, ainda é um breu quando dona Catharina Amélia, que o escolheu marido há mais de meio século, lhe passa as recomendações de hábito. A bordo da Pajero ano 95 parte para a longa missão. Sua companhia são o motorista, uma caixa de insulina Lantos, uma frasqueira com a muda de roupa e o Espírito Santo, a quem pede que ilumine seu caminho. Muitas vezes pára no trajeto e entrega santinhos nos casebres de pau-a-pique de beira de estrada e também para comer jaca e beber água de coco.

A rotina de campanha é interrompida quando uma crise de diabete o castiga e o prende em casa. Semana passada mesmo, depois de cumprir uma maratona em Bom Jardim, João Alfredo, Cumaru e Caruaru, foi obrigado a se recolher ao apartamento do Recife. Não mais foi visto em suas bases eleitorais. Assessores montaram um esquema para não expor o ex-deputado e evitar o assédio da imprensa.

João Alfredo é pouco mais que um povoado, como o são todos os 25 municípios pernambucanos onde ele encontra a anuência de parte da população. São 29 mil moradores - 44% deles analfabetos - e 22,9 mil eleitores na terra natal de Severino, onde ele vendia bijuterias, ainda na adolescência, e depois montou uma fábrica de móveis, antes de ingressar na política. A fábrica não existe mais, no entanto deixou frutos - muitos que trabalharam para seu Zito aprenderam o ofício e montaram na cidade seu próprio negócio. São gratos a ele pela oportunidade.

O pessoal simples também dá valor aos costumes e tradições do interior. Severino tem ciência disso. De modo que, quando algum conterrâneo vai embora desta vida, ele não perde a chance de comparecer a todos os atos de ofício, do velório à missa de corpo presente até a última pá de terra, levando seus sentimentos à família do morto.

Para seus adeptos ele é um padrinho querido, que nunca se fez ausente. Não por acaso, Severino mantém a Associação João Vicente Ferreira, entidade que oferece o mais legítimo assistencialismo dos coronéis da política, com direito a médico e dentista de graça uma vez por semana. “O povo nordestino vota em quem lhe dá assistência”, atesta Roosevelt Gonçalves (PP), prefeito de Cumaru.

- Ahhh!
Tem que ser muito idiota pra votar nesse véio babão!

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